sexta-feira, junho 20, 2008

Serra da Estrela - Passagem de Ano (sempre actual!)



Numa passagem de ano alargada (apanhava um feriado numa 5ªfeira), eu e mais dois amigos decidimos alugar um carro na rent-a-car onde eu trabalhei, havia pouco tempo. Sabendo de promoções especiais de fim-de-semana, falei com um ex-colega meu e estava tudo preparado para ir buscar um carrito pequeno (Peugeot 205), e barato, só que quando eu liguei a confirmar a hora do levantamento fui informado que não havia carros. Pensava que se tratava de uma brincadeira mas não...
– O Big Boss decidiu renovar a frota nesta altura e tivemos de cancelar as reservas. – Eu fiquei em pânico. – Mas não te preocupes que falei aqui com os tipos da rent-a-car ao lado e eles têm um carrito para ti e o preço é mais ou menos o mesmo. – “Mais ou menos o mesmo…” - , pensei eu. Bem…
Quando fui levantar o carro e depois de tratar do preço / caução (que tinha ficado em mais uns 20 contos), fomos ver o carro que o recepcionista dizia:
– Está mesmo ali. È aquele branco. – Eu na porta, olhava para fora e não via nenhum carro branco.
– Onde está?
– É aquele branco ali. – enquanto arrumava uns papéis.
O “carro branco” era um Suzuki Samurai de capota de lona. (misto de surpresa e pânico porque eu sabia que o preço de um jipe era bem diferente de um carro). O preço baixou porque durante a inspecção verifiquei que a lona não prendia em vários sítios (e íamos para a Serra da Estrela que não é propriamente um local quente!), não tinha buzina e não havia triângulo. Acabou por ficar a uma nesga do preço do carro mas valeu a pena.
Quando cheguei ao pé da malta que ia nessa viagem, foi o delírio e gargalhadas quando os avisei que tínhamos de arranjar um triângulo e de tapar com fita a lona à volta para não entrar frio (e mesmo assim não bastou, mas deu para rir e a bem rir). Para fazer a vez da buzina eu disse que a hipótese que tínhamos era de gritar os três ao mesmo tempo e bem alto. Rir, mais uma vez e…siga a dança!

Durante a viagem, sempre com o aquecimento ligado e com um tipo com quase 1.80m no banco de trás, malas com roupa no outro banco traseiro porque espaço é algo que não abunda num Suzuki Samurai, reparei que o indicador da gasolina estava a meio e abanava tal e qual uma seara ao vento e por vezes a luz da reserva acendia. Toca a baixar dos 130km/h (que aquilo não dava para mais!), e avisar as hostes. Resignação geral do trio e raiva ao quadrado quando reparámos que um 2 CV “Vermelho Ferrari” passava por nós, “na brasa dos seus 115km/h”. Todos os nomes feios nós chamámos ao desgraçado condutor e ocupantes do 2 CV enquanto eles se afastavam e desapareciam no horizonte. Rimos e gritámos de raiva tristemente divertida. Contudo a minha preocupação era a gasolina e tivemos de sair da Auto-estrada e fazer o resto do caminho pela Nacional.

Na manhã da ida à Serra da Estrela, “ía todo feito” para tomar um duche quando senti na pele a água gelada, mesmo depois de passar pela caldeira (tinha um problema qualquer e não aquecia a água convenientemente). Desisti, assim, ao milésimo de segundo, e apenas molhei os dedos mindinhos e tirei a ramela dos olhos e - …já está! – Fui lá fora e coloquei o Samurai a trabalhar para aquecer (a ele e a nós, depois!).
Durante a descida da Serra, fomos ultrapassados “à lá gardére” por uns tipos num VW Jetta azul escuro e tal não foi a manobra que partiram o espelho no carro que vinha em sentido contrário, tendo eu apenas tempo para tirar o pé do acelerador.
Continuando a descida e passados uns 30 minutos, numa recta depois de uma curva reparei que iam uns tipos a atravessar a estrada e comentei que seriam os do Jetta azul. A dada altura eles param a meio e ficam a olhar para o carro que vem em sentido contrário com umas miúdas lá dentro.
Nós, aproximávamo-nos e eu apitei mas não ouvi nada.
Não havia buzina
– Então e agora como é que eu aviso os gajos? – (não me apetecia nada abrandar ou parar por causa deles; ainda para mais estando eles plantados no meio da estrada) – Olha…vou acelerar pode ser que eles ouçam o barulho do Samurai e saiam da estrada! – Meu dito, meu feito.
Acelerei fazendo o Samurai “berrar de raiva” e assim que chegámos ao pé deles, os tipos assustaram-se e saltaram para o outro lado (o que faltava atravessar), da estrada, a barafustar connosco. Rimo-nos e seguimos caminho até nos dar a fome e decidir para num restaurante à beira da estrada para petiscar. Assim que estacionei e saímos do carro, outro carro parou e de lá dentro saíram 4 tipos caminhando na nossa direcção. Voltei-me para trás e disse:
– Olha quem são estes!
Os meus amigos olharam e um (que era bem forte) colocou-se ao meu lado enchendo o peito enquanto o outro andava a olhar para o chão de uma lado para o outro parecendo um cão frenéticamente a farejar algo. Não liguei e preparei-me para o confronto.
- Olha lá…tu é que és o tipo do jipe branco? - (pronúncia do Porto. Temos festa!) – Achas bem aquilo que tu fizestes, hein?! - Dito com ar de Fúria Nortenha. Eu, sem dar parte de fraco, com “um de peito cheio” a meu lado e outro que ainda não tinha encontrado o que fosse que procurava, voltei-me e perguntei agressivamente apontando o dedo:
– E tu? Achas bem aquela m… que vocês fizeram? Parados no meio da estrada. Eu sei bem porque foi… Foi para olhar para aquelas gajas que estavam a passar naquele carro…pois foi, foi – (Isto dito com a maior certeza e convicção do mundo). Aí, os tipos amainaram logo e apartir daí foi só gargalhadas para o ar de ambos os lados:
- Puódes crer, carágo! As gaijas eram bem buoas…hahahahahahaha…!
E nós:
- Hahaha….Eu vi logo! Hahahaha…Estás a ver? Hahahaha… Eu disse que era por causa das gajas! Hahahaha… Aquelas do carro…Hahahaha!
Por essa altura já o “farejador” do nosso amigo tinha parado e mesmo apanhando as gargalhadas a meio, forçava o riso, a bem rir, batendo com as mãos nas pernas – Hahahahaha…haha…háaa…aaa!

Despedimo-nos, desejando uma boa Passagem de Ano. Os tipos afastaram-se e voltei-me para o “farejador”…
- Então, meu?! Os tipos a virem na nossa direcção, estava a ver que ia haver m…, e tu não paravas de andar de um lado para o outro, meu! Este já estava ao meu lado de peito tão cheio que parecia rebentar e tu… - Ao que ele respondeu:
- É pá…eu vi logo quem os gajos eram e que parecia que ia haver cena da grossa…
- E então…!
- Então pensei que a haver cena, havia de dar uma ripada num e comecei logo á procura de pedras, só que não encontrava nenhuma!
- (ao mesmo tempo que imitava o acontecido, andando de um lado para o outro como os cães).
Rimo-nos novamente e tão alto que os outros tipos ainda ao longe ouviram, olharam e nós respondemos com acenos e gargalhadas (assim do estilo… - Vai, vai…hehe… adeus…hehehe… e tem cuidado a atravessar a estrada, hein…).

Foi uma Passagem de Ano engraçada. Boa, mesmo.

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