segunda-feira, outubro 16, 2006

Mentes brilhantes, diferentes até que ponto?

Matt Savage compõe e toca Jazz num bar de Manhattan. Matt Savage é uma criança. Ele é autista profundo. Steven Willsher, inglês, adulto, desenha desde criança. Steven possui memória fotográfica. Após um vôo de trinta minutos sobre Roma, passou três dias numa sala a desenhar todos os pormenores numa tela com cinco metros, começando pela Basílica de São Pedro ao centro.
Matt e Steven são considerados “Savant’s”.

Savant” é a condição na qual pessoas, incluindo autistas, são capazes de feitos extraordinários, ilhas de habilidade, brilhantismo, talentos que contrastam sobremaneira com as outras limitações (…normais!), que possuem. Pode ser de origem genética, de nascença ou adquirida ainda em criança ou já em adulto. As capacidades de “Savant” coexistem com as outras “limitações”, se assim se poderá dizer.

Matt Savage fala normalmente, conversa normalmente como uma pessoa normal sem interrupções ou algo que o identificasse como…”não normal”. Fala assim porque está a falar de algo que o interessa grandemente, está no seu meio de conhecimento: montanhas-russas. É conhecedor de todos os pormenores das montanhas-russas mais espectaculares do mundo, ângulos das curvas, das subidas e descidas, das sensações. Sentado ao piano, descreve enquanto fala, duas ou três montanhas-russas, tal como um maestro tocando efusivamente uma área, de fazer saltar os cabelos de um lado para o outro.
Steven, desenha ao mesmo tempo que ouve música disco dos anos setenta. Pessoa normal como os normais, falando como os normais apenas com algo que o diferencia: memória visual extraordinária.

Normal. Deficiência. Anormal. Diferente.

Estou a ver o “Mega – Savant”, Kim Peak de Salt Lake City, o inspirador do filme RainMan. O verdadeiro. Nada que se pareça com o Dustin Hoffman, é agora um homem de 50 e poucos anos de cabelo grisalho e óculos e bochechas balofas. Dois ou três pormenores transportaram-me para outras tantas cenas do filme: o balançar do corpo, a maneira de falar e o jogo de mãos. Espectacular! Kim Peak é um fenómeno inexplicável para os médicos e estudiosos da matéria. A sua massa cerebral não preenche a totalidade do crâneo, sendo bem mais pequena que o normal. Os restantes espaços estão cheios de liquido. Ninguém consegue explicar nem quase entender como alguém com tremendas limitações, acumula tanto conhecimento.
Kim está "proibido" de assistir a concertos de música clássica. O seu pai afirma que se alguém tocasse uma nota abaixo ou acima do estipulado, Kim aperceber-se-ia e imediatamente se levantava e assinalava "quem o fez", apontado-o.


Para nós, “normal” somos nós e quem se comporta como nós. Basta um pequeno desvio ou atitude de alguém a quem considerávamos, à dois segundos atrás normal, para de imediato dizermos: “Mas este tipo é anormal ou quê?”
Contudo não é tanto à letra assim. Basta sermos um pouco…menos normais para não sermos normais, logo, anormais.
Porque não diferentes?! Porque quem se comporta assim, não só é anormal como é estúpido. Estúpido Consciente, talvez. Ou Inconscientemente Estúpido, o que duvido. Consciente sim, de que comete uma estupidez de uma maneira perfeitamente anormal.

O que é diferente, fora do normal não nos agrada. É deficiente de normalidade, daí não aceitável.Isto é que é completamente estúpido, se calhar até de escrever quanto mais de o pensar. Mas é verdade!
Existem os incompreendidos, os menos aceites, diferentes, os génios e os deficientes de capacidades mentais. Alguns deles, entenda-se, perfeitamente normais!
Mas falo dos outros.
Conheço um génio incompreendido por muitos e aceite por poucos. Pessoa não tão fácil de lidar, capaz de atitudes bruscas e… “não normais” de pôr toda a gente a olhar para ele e para quem o acompanha. Mas se o assunto que se abordasse fosse do seu âmbito (informática e programação), a conversa acontecia sem qualquer altercação, fluida de princípio a fim com alguns detalhes normais para alguém como ele – incapaz de fixar o olhar por pouco tempo que fosse. Também capaz de algo extraordinário: trabalhar (agora por conta própria).
Normal, portanto. (Engraçado!)
Outros há com deficiências a nível mental. Para dizer a verdade, nem sei como os conotar, se Deficientes Mentais ou de Portadores de Diferenças Mentais. Serão eles normais no seu próprio mundo mas diferentes no nosso. Mas estes são mais facilmente identificáveis pela diferença na fala, nos gestos ou a caminhar. Tal como nos normais, que giro!
Nalgumas conversas com, perdoem-me a expressão, “gente assim” (menos normal, diferente…já nem eu sei!), é possível de facto verificar diferenças. Chamo diferenças e não anormalidades, não por não saber o que dizer mas precisamente pelo contrário.
(Serei normal por isso…? Hum…)
São capazes de feitos também extraordinários: efectuar tarefas, manter uma conversação, fumar (com todos os malefícios que tão mau vicio trás, até aos normais!).

Coitados? Coitados dos pobres de espírito, dos verdadeiros anormais (estúpidos ou não), conscientes só ou conscientemente estúpidos, parvos, idiotas e afins. Destes sim, é preciso ter pena (ou talvez não).

O que é preciso é saber viver NA e COM as diferenças.

Todos Diferentes, Todos Normais. Até os Estúpidos…porque neles…é normal!


f. p. 10/2006