quarta-feira, dezembro 15, 2010

Os Pézitos Mais Quentinhos das Redondezas



Como todas as outras...

... era uma vez um sitio nas Redondezas onde de vez em quando faziam umas festas. A malta fazia por andar sempre animada mas volta e meia era capaz de se ouvir um choro. No final de cada época, havia um concurso e como as épocas eram muitas, os concursos eram muitos também; um dos últimos havia sido do Melhor Rabito das Redondezas.
Agora, a animação andava à volta da eleição dos Pézitos Mais Quentinhos das Redondezas. E como todos sabem, um bebé bonito é um bebé com os pés quentinhos. Até o sorriso é mais rasgado e tudo.

As coisas começaram a ser preparadas desde cedo.
Todos os bonecos foram instruídos para que sempre na presença de um bebé, para além da companhia, durante os sonhos enquanto brincavam falassem acerca da importância de certas coisas, sendo uma delas o facto de ser de muita importância ter os pés quentes para prevenir as constipações. É claro que haviam excepções porque também era importante que os bebés brincassem com os pés e aquelas coisas todas.

Eu, apenas podia fazer a minha parte e aproveitava (e aproveito) durante a muda da fralda para contar ao Gabriel acerca das meítas, peugas, pantufitas, sapatos, ténis e afins. Enfim, coisas que lhe começaria a pôr nos pés para que não tivesse frio.
A cada conversa que tenho quase que sinto / vejo pelo canto do olho, a bonecada toda a ouvir atentamente, espreitando só com os olhitos por cima do resguardo do berço. O Coelho Orelhas é o que costuma das mais nas vistas - ele que nem precisa de se levantar para ouvir por ser grande e ter as orelhas grandes e maiores que as dos outros mas não resiste a olhar de vez em quando para ver como eu estou a fazer com as meias ou sapatos; acho que precisa de ver para depois explicar melhor ao Gabriel durante os sonhos.
E a minha parte resume-se a falar com o Gabe em bebelês:

- Sabech, Gabe, pukê é ke tens ito nos péjitos... sabech? - e começo a mexer-me de um lado para o outro, dançando ao som da música do momento (porque inventei no momento mas isso não faz com que não seja um exito. Pelo menos enquanto me lembrar da melodia!). E recomeço:

- Tu tens de ter os pejitos quentinhos... P'a não tê fio!
Um pejito lindo é um pejito quentinho,
E vamos por a meítas no fiote
P'a o fiote ser um fiote...
... liiiindoooooo!
Fiote lindo é fiote quentinhoooo...! - e o refrão varia consoante a atenção e reacção do Gabe.
- Com as meias... Pejito quente...
Sem as meias... Pejito fio...

Julgo por vezes ver os bonecos, lado a lado abanando-se ao ritmo da melodia, sentados no rebordo do berço. Hum...
Até houve uma altura em que vi um deles em vôo livre do berço em direcção ao chão - Olha... aquele entusiasmou-se... - e nessa altura a minha mente voltou à realidade quando vi o gato a saltar para fora do berço e descobri a razão - Coitado do Elefante Coiratos, pensa que lá por ser parente do Dumbo, também voa! Tss... Tss... Ou saltou a fugir do gato ou foi persuadido a fazê-lo! De qualquer das maneiras, converso com o Patitas depois.

Acabo com a frase final da música, que também surge conforme a reacção do público:

- Quem tem um pejito quente lindo? É tuuu... - e pego-lhe nos pés e mexo-os de um lado para o outro, para cima e para baixo, para a frente e para trás enquanto uns bonecos entrelaçam os braços ou patas e rodopiam e outros se balançam nas orelhas do Coelho Orelhas. O Gabriel ri, dá gargalhadas porque gosta ou pela minha figura e eu também porque a malta é jovem e gosta é de festa, festança, animação - nem que seja numa muda de fralda.

Está cada vez mais desperto para tudo o que o rodeia. E o Gabe também; adora estar de pé e a força que faz nas pernas é tal que já nem descai tanto quanto o fazia antes. Chego apenas a estar a ampará-lo.
Já não anda no ovo. Não cabe! Agora tem a cadeira dele para andar no carro e como a perspectiva é outra, olha para todo o lado.
Quando passeamos, fica sentado na cadeira, tipo o Sultão dos Sultões.

Obrigado, bonecada! Até jááááá....