quinta-feira, setembro 07, 2006

O Verão é lindo!

O bafo quente invade os pulmões e até custa a respirar.
Tempo de praia, banhos de Sol e mar, pouca roupa que o bronze fica bem e chama a atenção, amores e odores.

Sim, odores. Odores de Verão.

Disfarçáveis na praia e campo, terriveis e insuportáveis em ambientes fechados. Na praia é só passar areia qual lixa no sovaco e lavar com água e sal "...e olha que bom, está mesmo aqui à mão." Siga para bingo!
Amor rima com odor (que giro). Odor bom, claro.

Imagine-se o contrário: à beira-mar uma silhueta bem torneada de biquini reduzido inclina a cabeça e escorre a água remanescente com as mãos, de olhos fechados sentindo os raios quentes na face. Não muito longe uma figurinha masculina observa-a, sorvendo a baba e pensando para consigo "...anda cá canina que o jantar hoje é fava!" Nem mais. É já a seguir; ajeita os calções e recheio, enche o peito e aproxima-se dando seguimento à troca de olhares minutos antes.

Fantástico o que um olhar faz (mas não revela!).

A conversa inicia-se e decorre sem percalços até ao momento em que sentados na areia ao pé da água, para refrescar, ele põe o braço á volta dos ombros dela, faz boquinha de cachucho e se prepara para o "chôcho" da ordem. Qual estalada na cara, assim a frio, a mocita é assolada por uma fragância sovacal que se agarra às paredes interiores das fossas nasais e de lá viaja a uma velocidade alucinante até ao cérebro, cerebelo e afins, dando sinais de alerta aos neurónios que tocam a rebate e fazem ricochete para os pulmões avisando-os para susterem a respiração. O sinal torna-se perceptivel ao rapazito quando repara nos olhos esbugalhados, boca fechada e bochechas de fora já azuis-cereja da falta de oxigénio. Ela afasta-se tipo caranguejo, inspirando aliviada e agradecendo a marzia e a brisa que passa a seu favor.
A brisa é amiga. Viva tu!
Espantado com tudo aquilo, vê-a afastar-se abanando a mão à frente do nariz; não compreende porquê, uma vez que pouco antes até tinha esfregado e penteado o sovacal com uma mistura de areia, água e "...até sal!" ... pelo menos resultou bochechar com água do mar. "...menos mal", pensou, "...até estou no bom caminho".
Pensamento positivo acima de tudo.

Nos transportes a coisa muda de figura à décima potência.
Flatulências à parte - afinal, há coisas que não se conseguem evitar, é o local ideal para ser confrontado com odores de (quase), todos os tipos.
Há odores próprios, geneticamente transmissiveis mas evitáveis. O mercado está povoado de desodorizantes e perfumes que ajudam (e de que maneira), a atenuar os efeitos e evitar olhares de soslaio reprovadores. Pior é quando após soslaio, não hà maneira de se afastar um centimetro que seja.
- É o tipo que entrou no autocarro num fim de tarde e se sentou pesadamente no banco. Põe de lado a mochila, estica as pernas, arregaça as calças ainda com pó das obras e abana os pés esperando que algum ar passe por entre a sola das sandálias e as meias de lã (?!) - pior do que escorregar no chão é escorregar nas sandálias e mesmo assim bater com os cornos num poste.

O que se faz numa situação destas em que, verdade seja dita, ninguém tem de cheirar o que é dos outros?
Empina-se o nariz, respira-se va-ga-ro-sa-men-te, aproveitando cada centimetro cúbico de ar. O dito cujo, esse está bem - "...com o meu cheiro, posso eu". Há sempre a hipótese de sair e apanhar o próximo autocarro.

Mas quando o que a malta quer é chegar a casa, é capaz de aguentar muito.
Descansadamente apertado em pé no metro, entre entradas e saidas "...porque ainda não chegou a minha estação", há a senhora que entra e que impesta a carruagem com o mais forte dos perfumes.
Do mal o menos - não cheira mal. Mas há que dizê-lo com frontalidade: estar quinze minutos com o nariz enfiado em girassóis e nenúfares, enjoa. (Dou valor às floristas)

Será este o oito?
Estará então no oitenta, o magote de pessoas que se aninha onde pode e o individuo que apenas se pode segurar na parte de cima do varão, expondo ao nivel do nosso nariz o belo sovaco peludo, com gotas de suor dependuradas, ondulantes, tentando escapar, "qui sá" à nuvem de fragância que sai, tal e qual como quando se destapa a vela e o fumo sobe. Terrivel, mas verdadeiro!
- "Já fumei um cigarro, deitei fumo pelo nariz como um dragão, mas o cheiro do sovaco do tipo não sai - Ai, Jesus, que agonia!"

Lá alguém se lembra de desentupir a tripa.
A bufa mistura-se ao exagero do perfume e à transpiração exacerbada. Ah, não esquecer o ar quente da Estação.
Linda sinfonia de odores e nem uma nesga de terreno para escapar. Resultado?
Faces tornam-se azul-cereja, expressões de indignação como "...aínapá, era só o que faltava", ou então "caramba, alguém comeu alguma coisa morta!" (a minha preferida).
Ninguém tem de cheirar o que é dos outros mas porra...que o guarde para si! Ponha num frasco e faça uma infusão ao deitar - nada se perde, tudo se transforma - "sai e volta a entrar que és meu!"

O proibido de fazer em momentos assim...é rir. Pode parecer de mau gosto mas o humor, convenhamos...é lindo! Voltam-se todos para nós e é inútil dizer entre risos "...não fui eu, a sério!", de seguida "...parece que é parvo", somos logo bombardeados, "...porco, indecente". Apetece responder com uma gargalhada "...é melhor não dizer que é pouco, minha senhora...", mais risos, claro está.

É fazer como na India - tirar as janelas aos veículos e assim peidar, transpirar e perfumarmo-nos à vontade.
Mas lá deve ser mais fácil ainda, pois todos cheiram a caril.

O Verão é lindo e recomenda-se. Esfregue-se o corpo, lave-se a dentóla com algo mais que água e sal (...por favor!), porque nunca se sabe quem vamos encontrar pelo caminho.

Outros odores há que despertam outras emoções...mas isso são outros quinhentos, a devido tempo e no lugar certo (mais ao lado!).