segunda-feira, dezembro 24, 2007

"Conto" / Sonho (esquisito) de Natal


Madrugada de 24 de dezembro de 2007

04:39
Acordei com vontade de ir à casa de banho. Levantei-me e fui à "sanita de serviço" do prédio que ficava no cubículo (Cena Esquisita Nº1). É de salientar que estou com os meus pais num rés-do-chão e já agora, temos casa de banho em casa. Ao abrir a porta de casa, vejo a minha mãe a sair da "sanita de serviço", cabeça baixa, completamente ensonada. Fiquei espantado porque pensei que eu era o único que soubesse da existência do dito local. Na mesma, não faço a minima ideia porque raio é que me levantei e fui directamente ao cubículo, perdão, "sanita de serviço" onde na realidade é o cubículo! (Cena Esquisita Nº2).
Ao entrar no dito local, comecei a retirar uns painéis que havia em baixo na porta e na parede - poderia ser, de caras, uma cena esquisita nº3 mas não; acontece que eu já sabia o que ía fazer e como o espaço era apertado e sem ventilação, aquilo não era mais do que uma tentativa algo vã (admito), de arejar antes, para o durante.
Preparava-me eu para o serviço quando da porta do outro rés-do-chão, mesmo ali ao lado, sai um tipo que me cumprimenta e começa a falar comigo (esta sim, é a Cena esquisita Nº3). Ora, o tipo já andava a "dar umas voltas" com a vizinha do lado à algum tempo porque o marido dela é camionista e passa alguns dias fora e saía empre pela madrugada para não dar nas vistas (podia ser a cena esquisita nº4 mas como fica muito perto da anterior, é só promovida a Cena Esquisita Nº3.1). O pior é que eu estava mesmo aflitinho para um "serviço de mestre" que iria entupir os respiradores todos do prédio e o tipo não parava de falar comigo, ainda para mais de futebol, assim como se estivessemos acabado de estar a vêr um jogo (Cena Esquisita Nº3.2 - pelas mesmas razões da anterior porque está, esta ainda mais, perto da anterior). O tipo lá foi embora e finalmente eu entro, sento-me e respiro fundo porque não há melhor sensação do que o alívío, nem pensar!
As grades que eu tinha retirado da porta e da parede, davam-me uma visão da porta da rua e das escadas que vinham do 1ºandar. Poderia eu passar por exibicionista mas o que eu queria mesmo era arejar o sitio, só isso (Facto é diferente de Cena Esquisita).
Nem o servicinho havia começado, o meu pai acorda e começa aperguntar "qué que foi isso, pá? Que barulho foi ese, pá? Qué que foi isso?", e eu sentado, mãos na cabeça abanando-a, uma vez que tinha sido eu a fazer o barulho porque as placas que tirei, tal como a porta, eram de metal, daí o barulho. O que eu não sabia, era que o mesmo tinha acontecido enquanto ocorria um assalto (Loucura, né? Mas há mais ainda, prometo!), facto que acabei por dar conta quando a minha mãe surge em pijama, braços à cintura a proteger-se do frio, à porta da "sanita de serviço" e me pergunta - "tu guardas o dinheiro da fossa séptica em casa? Guardas? Olha...ela ficou sem ele!" (Definitivamente Cena Esquisita Nº4, por tudo!). "Ela", era a vizinha de cima.
Acabando de me dizer isto, a minha mãe vai para a entrada do prédio ficando a observar uma qualquer agitação lá fora, da qual eu não ouvia som algum. Imediatamente de seguida, sai uma mulher-que-eu-sabia-que-era-mulher, não-sei-porquê-mas-que-era-apesar-de-ir-de-calças, se-calhar-por-causa-do-cabelo-que-me-fazia-lembrar-alguém-conhecido, do rés-do-chão e fica parada à porta da rua a ver a agitação que eu não ouvia, para não dar nas vistas.
O surgimento desta senhora, impediu a aparição de algo muito mais importante que já me apoquentava a tripa à algum tempo e que o tipo que saiu antes dela, ajudou a prolongar. A minha respiração começou a ficar mais rápida, subindo verticalmente de intensidade quando avisto do meu trono, três pessoas que-não-conheço-de-lado-nenhum-e-que-só-poderiam-ser-os-assaltantes, a descer do 1º andar. Ora, a respiração "na vertical intensa" adicionada a estes três tipos, culminou num grito bem berrado de "eles estão aí, eles vão mesmo aí!"
Pois bem...para além de ter acordado a gata e os meus pais, devo de ter arrancado da hibernação o meu cágado-fêmea, acordado a vizinha do lado e não sei se a de cima também. E pronto, foi isto que se passou na madrugada de véspera de Natal, sem nenhum desatre à mistura uma vez que aproveitei e tratei de me aliviar no local certo, em casa.
Sem mais delongas,
Bom Natal.

Moral da história?
...acho que vou passar a ir à casa de banho antes de me deitar. Para prevenir...
P.S.: ainda estou para perceber porque é que o tipo sai nas calmas da casa da vizinha do lado e sem mais nem menos começa a falar de futebol comigo!!!

Caçadores de Nuvens











Não parou de chover a noite inteira mas para quem pense que já choveu o bastante, engana-se. Há falta de água.

No canal Odisseia, 07H45 da manhã, oiço falar em "armadilhas de nevoeiro" - trata-se da captura de nuvens em redes iguais às que resguardam edificios em obras ou remodelação que parece serrapilheira. Esticam-nas entre dois postes altos no cimo de um monte ou encosta e por baixo colocam em toda a sua largura, um cano de plástico estratégicamente cortado ao comprido pela sua metade, canalizando a água que escorre pela rede para um depósito. Isto passa-se no Chile, numa aldeia pobre onde uma voz de criança diz que "é possivel continuar a viver aqui (aquilo parece um "deserto, penso eu), só é preciso ser um bom "caçador de nuvens".
Quando já se começa a ouvir falar da falta de água potável, ainda se pensa que quando chove durante a noite toda "caramba, nunca mais vem o Sol! Mesmo que faça frio mas a chover é que não..."
Nós que vivemos com todas as mordomias, não gostamos nada de sair da cama quando há frio e muito menos se estiver a chover, temos queixas a toda a hora de "sempre a chover, sempre a chover". Não somos capazes de nos dar-mos por felizes com o que temos que é bem mais do que as pessoas daquela zona do Chile têm; no entanto, estes chilenos têm bem mais do que nós: Gosto, Vontade de (continuar a) viver no local inóspito onde vivem e Engenho para suprimir a falta de água potável que também usam para irrigação. Uma das muitas familias tem num dos depósitos, capacidade para 400 litros de água capturada das nuvens.
Nós por cá, só nos queixamos quando no Verão a albufeira ou barragem para onde costumamos ir, já tem pouca água ou quase nenhuma. E quanto ás energias alternativas, são uma óptima fonte de lucro, caras inacessíveis a muitos e principalmente, não fazem parte da nossa lista de preocupações, a curto ou médio prazo.
Somos nós os "inteligentes - pobres de espírito" contra os "pobres - mas inteligentes" e mais importante ainda... felizes.