domingo, outubro 10, 2010

O Crocodilo, Dilo & Amigos






O Dilo poderia ter vivido na terra do Bob, O Construtor ou na terra do Noddy e se assim tivesse sido, concerteza teria sido muito feliz e com muitos amigos com quem brincar e falar. Mas não.

O Dilo vivia noutro lado, num lugar muito especial e bonito, habitado por muitos outros como ele e diferentes também, todos em perfeita harmonia, conversando, brincando e também, indo à escola, duas vezes por dia, uma de manhã e outra de tarde. Para dizer a verdade, o dia todo era passado na escola mas fazendo sempre coisas diferentes: as conversas e as brincadeiras tinham todas haver com as lições. Todos sabiam porque estavam ali; aprendiam conforme o propósito para o qual foram criados: o de serem brinquedos de bebé. Havia de todos os tipos:

- os que podiam ir ao banho com o bebé;
- os que ficavam pendurados na pega do ovo para distrair o bebé;
- os que ficavam pendurados no ginásio para o bebé brincar;
- os que tinham uma argola no fim de um cordel que se puxava e dava música;
- havia um batalhão dos célebres Patinhos de borracha;

... e para além de muitos outros, haviam os que serviam para ser mordidos. É aqui que encontramos o Dilo.
O Dilo, tal como os outros brinquedos, adorava brincar e mal soube a razão pela qual foi feito, quase não conseguia esperar pelo momento em que seria agarrado por um bebé e mordido. Mas também sabia que tinha muito para aprender e que as lições iriam ser de muita importância.
Eram lições do tipo de como se comportarem ao pé de um bebé e dos pais e de terem sempre um sorriso na cara e estarem sempre prontos para tudo, para o que desse e viesse, fosse riso, gargalhada ou o inevitável choro. E aqui, o papel deles era por demais importante porque teriam a responsabilidade de fazer companhia ao bebé e se possível, atenuar o choro de birra ou de dor, da malvada cólica. Sabiam que se não conseguissem fazer o bebé rir novamente, pelo menos ficariam ali, ao pé dele, nunca o abandonando.

Nada disto deixava o Dilo com menos vontade de aprender, bem pelo contrário. Sabia que se conseguisse fazer um bebé rir, chamar a sua atenção ou que fosse apenas ficar ao seu lado, ficaria com o coração cheio de alegria, contente. Por isso, levavam todos as lições muito a sério. Até nas brincadeiras.
Durante as brincadeiras, os bonecos eram divididos noutros grupos, misturados com outros com fins diferentes. O Dilo ficou num grupo com o boneco do cordel e argola na ponta que era um coelho (ao qual chamou de Argolas), um ursinho de peluche com uma camisola onde tinha escrito "Winnie, the Pooh" (mas que rapidamente apelidou de "The Pum!", em alusão aos puns do bebé), e também um conjunto de 4 bonecos pendurados num mobile, por acaso amigos do "The Pum!" - O Tigrão (ao qual chamava de Zebra, só para chatear por causa das listas pretas), O Burro (a quem chamava de Fera, só para chatear a Zebra), O Piglet (O Cheiroso), e o outro que reparou que era igual ao "The Pum!" (ao qual não deu nome mas pensou - "Bem... a seguir a um pum virá quase sempre qualquer coisa mas pensarei nisso mais tarde!).

Nas sessões de brincadeira, o objectivo era o de aprenderem não o que os outros faziam mas como aplicavam o que tinham aprendido e a interagirem entre si e o bebé. Das primeiras coisas que lhes ensinaram foi o de nunca ficarem tristes, mesmo se de um momento para o outro fossem postos de lado só pelo bebé ter escolhido outro porque iriam todos trabalhar com um só objectivo: a Alegria e O Bem-Estar do bebé.
Um dos lemas era: Um Boneco Feliz é com um Bebé ao Lado.

Assim, em plena harmonia decorriam os dias naquele lugar bonito, onde todos aprendiam que a Felicidade é estar com quem gostamos, é Sorrir aos bocadinhos durante o dia, é Rir com vontade e sem afectação até que nos doa a barriga, é Estar no Choro mesmo que só fazendo companhia, é Esbracejar, Inspirar e Expirar o ar com um Sorriso de orelha a orelha, é Conversar mesmo em bebélês tão somente porque a falar é que a gente se entende, é Olhar e Ouvir o que se passa à nossa volta para saber o que fazer e como o fazer, tudo para que ao encontrar finalmente o bebé, possam por em prática todo o seu saber.


Algumas horas atrás, estava na sala a ver televisão com o Gabriel na alcofa e ele começou numa birrita pequena. Olhei para ele. Calou-se e sorriu. Peguei no crocodilo, Dilo e colocando-o suspenso à sua frente, disse:

- Sabech o que é ito? Ête é o Crocodilo, Dilo e 'tá a olhar p'a ti... sabech pukê? Puke ele 'tá à espera que tu dês uma trinca na cauda dele! Poijé... é vedade, chim! 'Tás a ver que ele 'tá a olhar p'a ti e se tu não muderes a cauda dele, chabech o que ele vai fajê? Hum...? Ele vai dar um beijito no teu nariz! Assim... ó... (chuac)... Viste? Então vá...

A principio não queria morder e eu sabendo que o Dilo poderia ficar triste, fiz o gesto com os maxilares de trincar / morder algo ao qual fui imitado pelo Gabe, mordendo a cauda do Dilo. Fiquei contente e quase juro que notei um sorriso mais alargado na boca do crocodilo e um ligeiro piscar de olho. (Consegui...)

P.S.: um Obrigado a todos os bonecos, novos e antigos que fazem ou poderão vir a fazer companhia ao Gabriel.