sexta-feira, dezembro 01, 2006

Natal na Clareira


Por vezes tenho a sensação de que estou a entrar numa floresta, à espera de ao virar da esquina ver um pequeno gnomo de voz rouca, barrete vermelho e pompom na ponta, sapatos bicudos a virar para cima e guizos irritantes a dar-me os bons dias, saltando de uma lado para o outro. Logo de seguida, sai a correr para um canto onde por uma janela pequena saem as prendas todas embrulhadas e prontinhas a serem separadas por zonas.
Nada sai sem Guia de Remessa! Absolutamente nada! Fica tudo registado no PC NTL 5.0, modelo sempre actualizadíssimo, ao segundo; assim consegue responder com a máxima eficácia a todas as solicitações.
Desvio-me dos ramos pendentes e das raízes que saem do chão, entro na Clareira e dirijo-me para a minha mesa. Ligo o meu posto de trabalho, irmão do último modelo do gnomo, pronto para iniciar a minha actividade. O tempo é relativo. Muda do dia para a noite mas não se nota diferença nenhuma. Lá fora a neve não pára de cair e como quase por milagre não cria montes maiores que a altura de um elfo. Os gnomos não gostam lá muito e de vez em quando designam um deles para ir à cave buscar a pá de neve e tentar baixar os montes. Mas não conseguem e o que é engraçado é vê-los tropeçar constantemente, ou na pá de neve ou na própria neve. Caem e começam imediatamente a resmungar roucamente – “Ai eu! Ai eu! Ai eu!”. Levantam-se, sacodem a neve da roupa, abanando ruidosamente os guizos e recomeçam novamente a actividade.

Isto é um corrupio de gnomos e elfos a entrar e a sair da Clareira. Todos querem saber algo: “Já chegou a remessa do Outro Lado? Quando chegar avisa-me que uma coisa para ir para lá. Obrigado.”; “Olha, faz-me um fax, rapidamente, a dizer para mandarem vir novos Livros de Registo. Obrigado”.
Todos pedem alguma coisa; informações acerca deste ou daquele Destinatário, se existem maus comportamentos que exijam a intervenção dos Anjos da Guarda (para puxarem as orelhas e fazê-los seguir o Bom Caminho); se a Caderneta de Identificação chegou ou não (junto com os presentes, segue sempre um C.P.D. - Cartão Personalizado do Destinatário, com uma palavra amiga do pai Natal).
Todos perguntam algo, inclusivamente coisas que eles próprios deviam de saber mas como a época é de festividades, tudo (ou quase tudo) se perdoa, porque afinal há gnomos que não são lá muito inteligentes… Mas…perdoa-se. É Natal! É Natal, e ninguém leva a mal! (adaptado).

Tudo é feito informaticamente. É liiindo! Mas desde sempre que é assim: não há papéis, ou melhor…os poucos papéis que existem são pequenos recados passados de mesa em mesa. Armários de prateleiras contêm CD’s de máxima capacidade com cópias de segurança. O seguro morreu de velho, mesmo na Clareira.
Dão-se todos bem, gnomos e elfos (ou elfos e gnomos, conforme seja um ou outro a dizer!). Rivalidades?... Nada disso. A verdade acima de tudo e há que dizê-lo com toda a frontalidade: os elfos são mais inteligentes (apenas um pouco para alguns, mas vá se lá entender a mente de um gnomo!).

O trabalho não pára. O almoço é por turnos e o mais engraçado é que todos saem à mesma hora! É um mistério. Não há fila no refeitório e até há, ou pelo menos nem se nota porque desde que se pega no tabuleiro, até à peça de fruta é tudo fluido.
O dia corre fluido na Clareira. Não pára. Flúi (ou flói, porque É Natal, e ninguém leva a mal! (adaptado).
Sai um turno e entra outro sem notar se é dia ou noite.

A neve não pára e um grupo de gnomos tropeçam e caem desajeitados, resmungam, levantam-se e cada um sacode e neve da roupa do outro porque assim é mais rápido. Os elfos riem. Ouve-se um suave trovejar mas tudo (ou quase tudo) se perdoa.

É Natal na Clareira.

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