terça-feira, setembro 23, 2008

Pós-Férias na Quinta da Piedade

As pessoas não sabem mas a vida na Quinta da Piedade está complicada.

A dada altura, a porca de serviço tropeçou ao passar o portão, caiu e torceu o rabo deslocando também a unha direita do pé de trás. Impossibilitada de prestar serviço, pôs baixa e a Quinta ficou numa “gestão interna”.
Pior. Vieram as férias. Os cavalos foram a galope ter com os parentes do prado mais a norte. Os patos marrecos voaram para longe (alguns; outros ficaram, frágeis demais para voar). Vacas, bezerros, cães, mulas e burros (não todos porque algumas bestas também ficaram), ovelhas, cabras (algumas), coelhos e outros animalejos, foram cada um para outras paragens ter com os seus.

O serviço na Quinta arrastou-se. Um vírus entrou no curral das vacas, passou pela capoeira, disseminando-se por todo o lado. Cada espirro, cada melro (é adaptado mas nem os melros escaparam).
Poucos escaparam; talvez por imunidade ou apenas pelo vírus atacar conforme a ruindade. (admiração?)
Muitos com o pingo no nariz e sem sitio para colocar os lenços de papel. Já ninguém conseguia era aturar a pata - Coxa por ter sido pisada (sem querer, consta…!), pela burra, andava com o pingo no nariz, juntando a isso, o facto de ela falar à “sopinha de massa”, cuspia perdigotos aos quatro ventos.

O lado sul da Quinta era um paraíso para as moscas, moscardos, varejeiras & companhia e nem a distribuição de sapos e rãs pelas divisórias dos animais para ver se os comiam, deu conta do recado. A disseminação do vírus e a falta de asseio de alguns animais, colocou o sistema em bloqueio aparente – aparente porque mesmo arrastando, a coisa ia. Do lado dos porcos, claro, ia mal e porcamente. Do lado das cabras, um pouco aos soluços, tipo “disco riscado” (bééé…bééé…). Todos pareciam mais mortos que vivos, parecendo que tinham “o mal dos coelhos”, quando ficam com os olhos todos remelosos quase cegos.
A Responsável pelo Serviço, já suspirava e transpirava, não sabendo eu se por causa do vírus ou pelo excesso de preocupações. De qualquer das maneiras, fez constar que para o ano “a coisa tem de mudar. Não pode ser assim!”. E era verdade: um carneiro a fazer o trabalho de uma ovelha, ainda vá, agora fazer o trabalho de uma pata marreca…convenhamos, não é?!

Verdade, verdadinha, “a coisa (serviço), fez-se”. A ver agora que parece que toda a gente está de volta, como as coisas correm.

A vida na Quinta da Piedade, vai (correndo!). Mas não tão bem quanto se podia esperar.
Com toda a gente de volta, o vírus foi combatido à base de injecções cavalares que ninguém gostou (menos os cavalos que não estranharam), e supositórios, com poucos a protestar (gostos, vá se lá saber porquê…Tsss!).
O que ninguém esperava é que o Sistema avariasse.
O Sistema era constituído por umas cordas esticadas e presas a uns postes que através de um sistema de roldanas, transportava os recados de uns para outros, de e para a Residência da D. Piedade. Consta que o que aconteceu, e isto dizem as más-línguas das cadelas (o que é que se estava à espera? - andam sempre a cheirar o rabo umas às outras e só pode dar naquilo!), mas consta que foi a vaca mocha malhada que distraída como é, encostou-se a um dos postes para se coçar e tal não era a comichão que acabou por tombar precisamente o poste no qual o Sistema repartia os fios para locais diferentes. Terá visto o que fez e “patas, para que vos quero?”… e deu de sola.
Mas tudo isto, consta… consta. Para quem consiga acreditar na língua de uma cadela delambida.
Agora, temos de esperar que os humanos venham para colocar o poste de pé e corre uma petição para a construção de uma pequena cerca em forma de quadrado para quem se queira coçar, sem prejudicar o trabalho dos outros.
È uma questão de tempo, dizem. Até lá, faz-se o que se pode, olha-se uns para os outros, assobia-se, bate-se com a pata no chão, uns grunhem outros balem e há quem suspire para que um raio lhes caia na cabeça de modo a parar com tamanha algazarra. Tal como os gauleses, alguns têm medo que o céu lhes caia em cima da cabeça (talvez pelos telhados de vidro…hum…).

É esperar para ver.

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